Livre da possibilidade de perda do mandato, a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) afirma que agora — com a tranqüilidade necessária — está mais motivada para lutar pelos interesses do Rio Grande do Norte. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, a senadora comenta que apesar de ter tranqüilidade por entender que seu direito era bom, a demora causou angústia. A senadora também fala sobre a crise no Senado, sua suposta saída do DEM, a eleição municipal em Mossoró; e responde inclusive o que teria a dizer ao ex-senador Fernando Bezerra, que impetrou a ação contra ela para obter na Justiça o mandato quer perdeu por 11 mil votos.
A senhora pretende sair do DEM?
Não. Isso não passa de especulação. Nunca dei nenhuma declaração nesse sentido. Nem é esse meu pensamento. Pretendo permanecer no DEM e com a aliança com o PMDB.
E o deputado Betinho Rosado? A senhora sabe algo sobre essa suposta saída dele do DEM?
Em determinado momento Betinho expressou uma opinião. Comigo ele não tratou desse assunto. Só ouvi algo nesse sentido. Betinho é um grande deputado, que possui um trabalho excelente pelo nosso estado e pela nossa região. Nós torcemos que ele continue engrandecendo o Democratas.
Como a senhora avalia a possibilidade do STF julgar que a infidelidade partidária tem de ser punida com a perda do mandato?
Eu sempre fui defensora da fidelidade partidária. Agora o que eu também sempre fui crítica é o fato das normas eleitorais serem definidas quando já se anuncia uma nova eleição. Isso é que deixa intranqüilos todos os políticos. Porque nós estamos em 2007, em 2008 já é eleição. Falta pouco tempo para o fim do prazo das filiações. E até agora — a 15 dias do prazo — ainda existe essa grande dúvida. Isso é muito ruim. Em nível municipal — de uma eleição para a outra — em alguns lugares há uma reorganização e muitos que estavam acreditando e se regendo pelas normas anteriores mudaram de partido e agora podem perder os seus mandatos. Isso é muito ruim. A minha opinião é favorável à fidelidade mas acho que deveriam decidir isso de uma vez por todas para que todos tivessem tempo de se estruturar. E que a partir daí não mudasse mais.
A senhora acha que há condições do Congresso Nacional votar algo acerca da fidelidade, evitando assim decisão do Supremo?
Sinceramente... O Senado está muito devagar. Porque existem muitas matérias sendo obstruídas.
Qual avaliação a senhora faz do episódio envolvendo o senador Renan Calheiros?
Eu votei pela cassação. Anunciei e votei pela cassação. Eu acho que nesse episódio quem saiu perdendo foi o Senado. A credibilidade da população com relação ao Senado, não houve nenhum ganho. Se já existia de certa forma uma decepção com os políticos, um fato daquela natureza só faz crescer esse sentimento. E o Senado precisa resgatar essa credibilidade.
Agora que passou, como a senhora vê o processo do qual se livrou terça-feira passada?
Eu era tranqüila porque tinha certeza que não havia descumprido nenhuma norma, nenhuma lei e nenhuma recomendação da Justiça Eleitoral. E até me surpreendi porque não há lei que proíba nenhum cidadão de dar entrevista a um jornal num período no qual eu não era sequer candidata. Então, o direito realmente era muito bom. De repente surgiu toda essa polêmica em torno dessa questão. Eu tinha tranqüilidade mas de qualquer maneira isso angustia. E foi um processo muito demorado, começou ano passado, logo após a diplomação.
E o que a senhora diria ao ex-senador Fernando Bezerra?
Eu sempre fui defensora da vontade do povo. Acima de tudo ela tem de ser respeitada. A minha eleição foi limpa, ética, de muita garra e luta. E o povo decidiu. Foi uma vitória justa pela vontade do povo. E agora confirmada pela Justiça.
O senador Garibaldi declarou que agora, livre do processo, a senhora se capacita como forte candidata ao governo. A senhora avalia essa possibilidade?
O senador Garibaldi Filho é muito generoso. Sou candidata mesmo a honrar cada voto que o Rio Grande do Norte me deu.
Como a senhora vê a eleição municipal que se aproxima e toda a movimentação política em torno dela, mesmo faltando mais de um ano para o processo?
Eu acho que em todos os recantos já existe essa movimentação. É natural do processo democrático. Já estão começando as avaliações. Em Mossoró as coisas estão caminhando com tranqüilidade. A prefeita (Fafá Rosado) está trabalhando e é a candidata natural do nosso partido. E acredito que deverão surgir outros nomes mas o nome que está posto é o da prefeita.
Agora livre do processo, muda algo na sua atuação no Senado?
Na realidade vou estar mais tranqüila para me dedicar ás questões prioritárias das comissões que participo. Tudo que for referente ao Rio Grande do norte eu vou estar participando.
Como a senhora — que é médica — avalia a área da saúde no Estado?
Com muita tristeza. Porque acho saúde prioritária. Acho que saúde tem de estar em primeiro lugar. Não existe nenhum país desenvolvido onde o povo não tenha uma boa assistência de saúde. Não podemos continuar a ver recém-nascidos com problemas de saúde por falta de uma boa UTI; pessoas em filas para obter um exame para poder fazer uma cirurgia para salvar uma vida; e aquela situação — que todo o Rio Grande do Norte conhece — nos corredores do Walfredo Gurgel. É necessário fortalecer cada vez mais. Os recursos da saúde tem de ser priorizados. Daí porque defendo tanto a regulamentação da emenda 29.
O que diz essa emenda?
É a que determina a obrigatoriedade da aplicação dos recursos de saúde em nível federal, estadual municipal. Isso foi definido desde a criação do Sistema Único de Saúde. Os municípios hoje têm de aplicar no mínimo 15%. O estado 12%. A União fica em torno de 10 a 11%. O que é que está acontecendo? Nós sabemos que a maioria dos municípios do Brasil estão aplicando mais de 15% de recursos próprios. Mas sem essa regulamentação estão colocando como custos de saúde muitas ações que interferem no tratamento próprio na prevenção e tratamento doenças. O próprio governo federal coloca a construção de cisternas como gastos em saúde. É importante. Mas é preciso especificar. Merenda escolar, por exemplo, tem de sair do orçamento da educação. Saneamento básico é importantíssimo para a saúde, porque cada Real gasto com saneamento economiza quatro com saúde. É uma obra da maior importância. Mas se você tira desse percentual da saúde, o que é que sobra para o remédio, para o exame, para a cirurgia, para pagar os hospitais e para melhorar a questão salarial? São essas questões. Não pode ocorrer — como aqui mesmo está ocorrendo — do hospital universitário, na área da pediatria, que o aparelho que faz endoscopia digestiva está há cerca de um ano sem funcionar. Era um exame referencial até para os estados vizinhos. Para isso é que essa emenda tem de ser regulamentada e depende do governo federal e da aprovação no Congresso.
E com relação à CPMF, qual sua opinião?
Para manter da forma como está, eu sou contrária. É um imposto que você paga mais de uma vez. A primeira coisa que eu acho errada: a contribuição não é repassada para estados e municípios. Depois, foi criada para ser empregado na saúde, mas se fosse realmente usado para isso talvez a área não estivesse numa situação tão difícil.
A senhora acredita em alguma solução rápida para a crise no Senado?
Eu sou da oposição e desde o início recomendamos que o senador Renan Se licenciasse do cargo para se defender das acusações. O fato dele ter insistido em se manter presidente é o fato mais negativo para a imagem do Senado. E se houve quebra de decoro, seja quem for, tem de ser cassado. Não podemos deixar o Senado paralisado porque o Brasil não pode parar. A defesa do nosso partido é pela ética, pela moralidade e contra a impunidade.
Fonte: Tribuna do Norte
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