segunda-feira, 28 de julho de 2008

Agentes do crime

Tem boi na linha! Grampos telefônicos feitos pela 2ª Regional de Polícia Civil (DRPC) durante a Operação Netuno, que desarticulou em abril deste ano uma quadrilha de traficantes de droga que atuava em Mossoró sob a chefia do detento da Cadeia Pública Manoel Onofre Lopes, Francisco Antônio Filgueira, o 'Rinaldo', revelou que pelo menos quatro agentes penitenciários da cadeia agiam em favor do preso.

Eles facilitavam o contato dele - de dentro da cadeia - com os integrantes da quadrilha que estavam em liberdade e levavam comida para a cela do preso, quando Rinaldo queria um cardápio especial, como pizza e frango assado.

Os grampos - autorizados pelo juiz Renato Vasconcelos Magalhães, da 5ª Vara Criminal - levaram o Ministério Público Estadual (MPE) a pedir à 2ª DRPC a abertura de um inquérito policial específico para apurar os indícios de crime contra os agentes penitenciários.

O JORNAL DE FATO opta por não divulgar os nomes dos suspeitos, já que a investigação está em andamento.

Na Operação Netuno foram presas cinco pessoas, entre elas, a mulher de Rinaldo, Maria Carlizete Aureliano Bezerra e o comerciante Edvaldo Nunes de Medeiros Júnior, conhecido como 'Júnior de Bizar'.

É exatamente 'Júnior de Bizar' o primeiro da quadrilha flagrado conversando com um homem não identificado sobre as visitas a Rinaldo na cadeia. "HNI (não identificado) diz a Júnior de Bizar que Rinaldo teve as refeições suspensas por causa desse negócio de visitas, mas Rinaldo diz que eles (...) só vão na cadeia no dia em que o plantão for dos agentes penitenciários... (diz o nome de dois agentes), só venham se for urgente", revela a transcrição do resumo constante nos autos do processo da Operação Netuno sobre uma conversa do dia 26 de dezembro do ano passado.

Um mês depois, o mesmo Júnior de Bizar é flagrado conversando com um agente penitenciário querendo visitar Rinaldo. "Júnior pergunta se dará certo falar com Rinaldo, (nome do agente) diz hoje que não dá certo não! Deixe pro meu próximo plantão, o diretor deixou ordens (de não autorizar visitas fora do dia marcado). Aqui está 'embaçado', venha terça-feira, é dia de visita, aí você vem no final, viu?", revela a ligação de três minutos e dois segundos.

Em outra ligação, do dia 29 de fevereiro deste ano, às 16h27, outro integrante da quadrilha, Rosemberg Thallys da Silva Filgueira, o 'Berguinho', que também foi preso na Operação Netuno, conversa com uma mulher não identificada sobre a entrega de uma pizza na cadeia para Rinaldo. "MNI diz que mandaram uma pizza para Naldo (Rinaldo). Berguinho fala que chegaram de lá (cadeia) agora e quem colocou a comida pra dentro foi (nome do agente penitenciário)".

Todos os presos na Operação Netuno foram denunciados pelo Ministério Público e estão respondendo ao processo, presos. Os agentes penitenciários investigados continuam trabalhando normalmente na Cadeia Pública de Mossoró.

Refém do sistema

A Cadeia Pública Manoel Onofre Lopes possui hoje 225 presos provisórios, quando sua capacidade é de 86 detentos. Na segurança do prédio se distribuem 33 agentes penitenciários e 18 policiais militares, em horários diferenciados. À frente desse 'caldeirão' está o advogado Alexandre Nóbrega. Um refém do sistema.

Fonte: De Fato

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