Os delegados federais presos nesta quinta-feira por agentes da própria PF (Polícia Federal) recebiam até R$ 40 mil por mês para deixar que caminhões com combustíveis originários de São Paulo entrassem no Rio com notas fiscais frias ou sem documentação, de acordo com o superintendente da PF no Rio, delegado Valdinho Caetano.
A PF executa a operação Resplendor desde a madrugada desta quinta-feira para cumprir 39 mandados de prisão de supostos envolvidos no esquema. Até as 15h, 21 pessoas haviam sido presas, entre elas os delegados Cesar Augusto Gomes Gaspar e Gustavo Sppeelo --chefe e subchefe da PF em Volta Redonda (sul fluminense), respectivamente--, outros quatro policiais federais, um policial civil, 13 empresários e um despachante.
A polícia procura ainda cinco policiais civis e nove policiais militares do Rio, além de empresários e policiais de São Paulo.
Segundo Caetano, os delegados presos recebiam uma mensalidade de três grupos de empresários do ramo de combustíveis para fazer "vista grossa" a caminhões que transportavam combustíveis ilegalmente. A carga tinha origem em usinas de São Paulo e seguia para o Rio de Janeiro, de acordo com a investigação da PF.
"Eles utilizavam notas fiscais frias e reutilizadas, e alguns caminhões passavam de forma clandestina até sem nota nenhuma", disse o superintendente da PF no Rio. Os nomes dos empresários envolvidos no esquema não foram revelados.
A quadrilha agia há cerca de um ano, segundo o delegado, e passou por duas "fases". Na primeira delas, policiais federais, civis e militares, sabendo que caminhões circulavam com a documentação irregular, começaram a montar blitze falsas para extorquir dinheiro dos caminhoneiros. Depois, os chefes dos policiais e os empresários entraram no esquema e organizaram uma espécie de mensalidades, pagas pelos empresários e divididas entre os policiais, para que os caminhões circulassem livremente.
"Alguns policiais militares faziam inclusive a escolta desses caminhões", afirmou Valdinho Caetano. "O chefe da delegacia [de Volta Redonda] era uma parte importante porque nada disso poderia acontecer sem o seu conhecimento e autorização."
Ao investigar a fraude, os agentes da PF descobriram ainda que os empresários também adulteravam o combustível originário de usinas paulistas em galpões de Volta Redonda. A acusação, contudo, ainda não faz parte da denúncia.
A PF apreendeu nesta madrugada carretas que pertencem aos empresários suspeitos de integrar o esquema e informou que peritos vão analisar o material para saber se houve adulteração.
Denúncia
Após analisar as investigações, o Ministério Público Federal denunciou à Justiça 58 pessoas supostamente envolvidas no esquema. Do total, 39 tiveram a prisão pedida pela 4ª Vara Federal de Volta Redonda.
A promotoria afirma, na denúncia, que os 58 supostos envolvidos cometeram crimes como corrupção ativa e passiva, falsificação de documentos, prevaricação, advocacia administrativa, violação de sigilo funcional.
Além dos crimes citados, o Ministério Público entendeu que o grupo cometeu ainda abusos na compra, distribuição e revenda de combustíveis, provocando concorrência desleal.
Nenhum dos 21 presos havia prestado depoimento formal até as 15h desta quinta-feira, segundo a PF no Rio.
Fonte: Folha Online
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