sexta-feira, 24 de outubro de 2008

BNDES avalia ajudar empresas que perderam com derivativos cambiais

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, afirmou nesta sexta-feira, em palestra no Rio, que a instituição pretende ajudar empresas exportadoras que tiveram perdas com derivativos cambiais. Sem dar muitos detalhes, Coutinho explicou que o processo está em discussão e será feito em conjunto com outros bancos.

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"É uma parte de empresas exportadoras, que tinham gestão financeira mais sofisticada que entraram nesse tipo de derivativo. É um conjunto limitado e é um processo que está em curso. A grande maioria está renegociando com a própria rede bancária condições para solucionar isso", afirmou.

O executivo destacou que o BNDES vai avaliar caso a caso. Ele acrescentou que o setor bancário privado está disposto a refinanciar as perdas dessas empresas e "diluir isso na frente". O BNDES, segundo ele, atuaria de forma complementar.

"Uma vez que isso seja solucionado vai desaparecer um elemento de incerteza que tem travado um pouco o processo de concessão de crédito dentro do sistema bancário. E nós estamos trabalhando intensamente para acelerar a solução desses casos. E conseguiremos fazer isso de maneira muito bem sucedida", completou.

Por enquanto, Sadia, Aracruz e Votorantim anunciaram perdas na casa dos R$ 5 bilhões com as chamadas operações de "hedge" (proteção) cambial. O governo, porém, já estimou em torno de 200 as empresas que podem estar expostas a este tipo de ativo.

São operações escoradas em papéis classificados como derivativos cambiais, em contratos com vencimentos futuros. Apesar do vencimento ocorrer de um a dois anos, em média, o preço do dólar do contrato é fixado no momento da assinatura.

Assim, se o dólar cai, os bancos cobrem o prejuízo e as empresas lucram, mas se a cotação sobe, ganham os bancos. Só que a disparada da moeda americana é tão forte no último mês, que teme-se que as empresas não tenham dinheiro para quitar suas dívidas.

Coutinho afirmou ainda que os efeitos da crise no Brasil serão limitados pelos bons fundamentos da economia brasileira. "Precisamos baixar a bola e olhar para os fatos inegáveis que são os fundamentos da economia brasileira."

Mudança

A postura anunciada hoje pelo BNDES contraria o que tem dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, ao mencionar a possibilidade de o Banco do Brasil ajudar o setor automotivo, que sofre com a falta de crédito, Lula negou que o governo daria dinheiro às empresas que "apostaram errado com o câmbio".

No início do mês, Lula já tinha adotado discurso semelhante. "É importante lembrar que essas empresas, no fundo no fundo, estavam especulando contra a moeda brasileira. Portanto, elas praticaram por conta própria, por ganância, este prejuízo. É um problemas delas, porque especularam de forma pouco recomendável", afirmou.

Fonte: Folha Online

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