quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Falta de estrutura da saúde pública faz mais uma vítima

Uma criança de apenas 10 meses pode ter sido vítima da falta de estrutura do sistema de saúde pública de Mossoró. A dona-de-casa Aurivânia Alves Ferreira não se conforma com a morte do seu filho, Josivan Victor Alves, um bebê que não tinha completado nem um ano de idade. A causa da morte foi uma insuficiência cardíaca, causada por cardiopatia congênita. A criança foi atendida no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), na quinta-feira passada, 30.

Aurivânia Alves conta que após procurar atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), se dirigiu ao Hospital Tarcísio Maia, pois seu filho estava com muita febre, devido uma pneumonia. Ao chegar ao hospital, ela conta que foi recebida pelo pediatra de plantão, que quis encaminhar a criança à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas o garoto não chegou a ir, por falta de vagas. A mãe então conseguiu gratuitamente em uma clínica particular um eletrocardiograma para seu filho, que detectou a cardiopatia.

De volta ao Tarcísio Maia, Josivan foi recebido por outro plantonista, que informou à mãe que ele teria que ser transferido para Natal, já que em Mossoró não existe cirurgião cardíaco pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o caso era grave. "A médica me falou que ele seria transferido para Natal no dia seguinte, sexta-feira, pois em Mossoró não havia um cirurgião cardíaco. Depois ela veio dizer que a viagem ficaria para segunda, pois não tinha vaga nos hospitais de lá", explicou a mãe.

Com esse quadro a mãe resolveu marcar uma consulta com um cardiologista em Mossoró, e procurou uma clínica da cidade. "Marquei a consulta, mais as assistentes sociais me impediram de sair do hospital com meu filho. Elas disseram que ele seria atendido por outro médico, ele foi atendido então por um gastroentereologista... aí fiquei desesperada, pois sabia que não tinha nada a ver com o problema do meu filho. Na hora que as enfermeiras injetaram o medicamento receitado por ele na cabeça do meu filho, ouvi claramente quando elas disseram que a dose era muito alta, mas mesmo assim continuaram.
Quando elas aplicaram o medicamento, meu filho começou a mudar de cor, vi ali meu filho morrer, sem que eu pudesse fazer nada", emocionou-se mãe.

Até ontem pela manhã, hora em que dona Aurivânia veio procurar a reportagem da GAZETA, ainda não havia sido emitido o atestado de óbito de Josivan Victor, que faleceu na sexta-feira. A mãe mostrou a denúncia que também foi feita ao Ministério Público, que vai avaliar a situação. "Eu quero justiça pelo meu filho e pelos tantos que morrem no Tarcísio Maia sem o devido atendimento", reclamou Aurivânia.

O diretor técnico do Hospital Tarcísio Maia, o médico Hélito Dantas Jales, explicou que o paciente foi avaliado pelo pediatra de plantão na sexta-feira pela manhã, e que seu quadro era estável, mas apresentava cuidado. "Uma cardiopatia congênita é detectada desde que a criança nasce, sei que é uma situação complicada, mais isso já deveria ter sido cuidado mais cedo", afirmou Hélito Jales.

O médico explicou ainda que a transferência realmente não foi feita, pois não havia vaga em Natal, já que apenas um cirurgião cardiologista atende pelo SUS. "Não podíamos mandar essa criança para Natal para ficar nos corredores. Antes encaminhávamos para o hospital em Messejanas, que é mais perto, mas a legislação agora só permite que um paciente seja transferido para dentro do próprio Estado", destacou o diretor técnico do Tarcísio Maia.

Quanto ao atestado medico, ele explica que um médico tem até 15 dias para emiti-lo. "Damos assistência às crianças na UTI adulto quando há vaga, mesmo sem remuneração para isso. Quanto a medicação, eu conferi e não houve nenhuma dose alta", concluiu o médico.

Fonte: Gazeta do Oeste

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